Bem, ao observarmos esta carta notamos algo de insólito. O que será que faz esse homem nesta posição estranha? Não estará a carta ao contrário?
Houve muita gente que pensou assim, chegando-se a achar no século XVIII que a figura dependurada fosse um erro.
É, a carta está corretamente posicionada. Trata-se de um homem suspenso pelo pé esquerdo a uma viga que parece uma barra de ginástica, ladeado por duas árvores que apresentam seis cotos sangrentos cada. O pé está preso por uma corda em formato de serpente o que pode significar que o criador e o destruidor de todas as coisas está ali para provocar mudanças. A cabeça deste homem está abaixo do nível do solo como podemos observar pela sua posição em relação às raízes das árvores. Os cabelos têm o formato de algo concernente à vegetação e que está sendo plantado. Ele está fechado pela viga acima e pelas duas árvores ao lado, como se estivesse em um caixão.
Traz as mãos atrás das costas, assim não pode mover-se e está totalmente a mercê da mãe terra. A perna direita dobrada na altura do joelho por trás da perna esquerda, sugere a figura de uma cruz. Os braços dobrados atrás das costas fazem com que a parte inferior da figura lembre um triângulo. A cruz acima do triângulo diz respeito à realização da Grande Obra na alquimia. As árvores possuem doze cotos no total, número representativo dos signos do zodíaco, das doze horas do dia e da noite, dos doze meses. Os cotos sangram e sugerem sacrifício, não o sacrifício da forma como costumamos entendê-lo, mas na acepção da palavra “sacre faccere” que quer dizer tornar sagrado. Aqui se trata de sacrificar nosso ego e ficarmos ali suspensos, crucificados. O tema da crucificação aparece em várias culturas. Osíris, o deus egípcio ficou pendurado numa árvore por três dias até ficar em condições de ser desmembrado. Na mitologia nórdica, Odin ou Wotan é pendurado em sacrifício nos ramos de uma árvore.
Quando precisamos mudar de estágio, primeiro devemos passar por um ritual de iniciação e como os deuses precisamos permanecer suspensos, inativos, porém em contato com nossa própria natureza, plantados no solo, à espera de um renascimento. Devemos ficar suspensos inúmeras vezes e devemos aceitar o nosso destino, entregando-nos a um princípio superior. Afinal, ali de mãos atadas, plantados na terra e dependurados, só nos resta esperar. Move-nos a certeza de que estaremos construindo bases cada vez mais sólidas ao contrário do que sugere a posição dessa carta - O Enforcado.

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quarta-feira, 19 de março de 2008
O ENFORCADO
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