o Sin gula r

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Casa colapsada / Com todo amor do mundo


Todo fiasco tem seu início dado aos invisíveis. Os olhos dos amantes por menos inebriados que estejam nunca são capazes de visualizar as rachaduras iniciais, que por mínimas que sejam podem gerar absurdos colapsos, contudo elas sempre estarão lá e uma hora ou outra hão de crescer lado a lado aos deslizes e pequenas falhas, porque são assim também pequenos os danos. Não há fora, nada é externo, tudo são paredes de certezas, promessas e afins. Ama-se pelo ópio do amor, pela inebriação dos 'eu te amo' exacerbados, pelo dormir e acordar com a figura prima da pessoa amada. Não diferentes das raízes tão naturalmente ramificadas são também estas rachaduras das quais vos falo, enquanto raizes promovem segurança e provém sustância ao que sustentam, simetricamente oposto fazem tais amáveis rachaduras, ramificam-se como prelúdio paciente de um colapso, não nutrem, pelo contrário, mirram silenciosamente o amor e os amantes, até que enfim, quando já não cabe prever, elas desabrocham em caóticas toscas flores de carne, suor e gozo interrompido: abrem-se os amantes em dois, três, três mil pedaços irreconhecíveis e irreparáveis - assim então misturados e conquanto indefinidamente separados, rastejam errantes escorregando em acusações, culpas e desculpas. Todo amor que finda é qual carniça que cheira estranhamente a álcool, cigarros e lágrimas; estas se cheirassem o fariam tal qual fel doce, porque aquele que chora não o faz porque 'desama', todavia porque se ama a coisa ausente, com todo amor do mundo.

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