o Sin gula r

segunda-feira, 10 de maio de 2021

João


Desolação. (Sobre)vivemos em um ex país, em uma ex democracia. Me questiono sobre se ainda me sinto brasileiro e, caso me sinta, continuo: o que é ser brasileiro hoje em dia.

Erramos no tempo, no ritmo, o caldo desandou e não tem volta. 6 em cada 10 brasileiros hoje passam fome e vivem na miséria. Até agora só temos 14% da população vacinada, enquanto os EUA já estão vacinando adolescentes.

Países como a Austrália e outros de primeiro mundo já vivem uma normalidade, ainda que sintética e meticulosa.

Hoje pela manhã recebi por um amigo a notícia que João Carlos havia falecido por conta da covid. Eu não consegui reter muito mais do que ele tenha falado após a notícia de morte. João, meu irmãozinho - Assim eu o chamava e ele a mim de irmãozão.

Aquele vácuo de estampir os ouvidos e desnortear me abateu e ao agradecer ao amigo que me informara da tragédia desliguei e sinceramente chorei. Chorei porque me lembrei da primeira vez que ele me chamou de cunhado, das vezes que jogamos* basquete e comemos croassonho... Das rodadas de poker e cervejas aqui em casa, das saídas com minha mãe, meu irmão e Carlos. Chorei. Chorei porque amei aquele homem em sua ridícula simplicidade e amabilidade.

Informei a alguns dos nossos próximos do que acontecera até não conseguir mais, tomei algo forte e me enrolei nos lençóis. A voz, a risada dele, os olhinhos miúdos e aquela barba que sempre invejei. Nossos abraços, momentos de fragilidade mútua, conversas das quais ninguém precisou saber. Chorei copiosamente.

Se me perguntarem o que o matou de pronto me adianto e digo que foram as escolhas, ou a falta delas, desse Genocida que preside o Brasil, a mesma Ex Nação da qual eu falara. Todo o negacionismo, desdém e maldade investida. Foi Bolsonaro que matou meu amigo João. Foram as 14 negativas à ofertas de vacinas de laboratorios, foi o comportamento facista e deplorável que arruinou as relações exteriores com potências como a China e Rússia diminuindo qualquer esperança para este não mais país. 

Eu sinto muito, irmãozinho, eu sinto demais. Amo você por quem foi e por quem continuará sendo em minhas memórias. Você foi icônico em humildade e generosidade. Vai em paz e até logo mais em uma melhor instância. Que nossa ancestralidade te receba e acolha também teus familiares em amparo e acalanto.


Sinceramente,

Seu irmãozão

Hugo Lobo

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