Realmente, que dia maravilhoso!*
Passei um dia vazio em casa, numa casa também vazia. Meus amigos chegaram no fim da tarde. Bebemos, nos inebriamos e falamos sobre coisas que passaram, mas do que valeu isso tudo? O que passou não tem conserto, nem as memórias vão ser nunca diferentes.
Céus, pensei que hoje à noite, como todo domingo, iria com meus amigos à Orla de Aracaju para me divertir... Exaurir de mim esses meus dias - dias tão imbecis – mas e daí? Fomos como planejado, ou melhor, como não planejamos. Estava um pouco ‘não-sóbrio’ e com medo de dirigir, deu por fim que Anderson pegou seu carro, Ana também e fomos todos à praia (h20). Sentamos, conversamos e resolvemos ir molhar os pés como de costume – tudo seguindo o ritual tão programado que deidade nenhuma foge. Andamos um pouco, chegamos à água, nos molhamos e de súbito, vimos um casal perto de um banco de areia... Curiosidade dos infernos nos fez ir até lá, como quem não queria nada, só passar e ‘nada fazer’... Olhar como quem nada queria e seguir. É certo, voltaríamos por ali, na beira da praia pelo mesmo lugar.
Um disparate, prévia dos tiros. Eu disse: ‘ah, rapaz, sei lá, estamos indo por aqui, mas poderia-mos ir por lá, quem sabe aquele homem não está armado?!’
Quando voltava-mos, bambo pelos pés na areia fofa, ouvi os dois disparos surdos voando e se enfiando como raios sem luz pelo chão: o maldito havia pensado que era-mos meliantes e resolvera atirar, não para assustar, mas para matar, findar, mandar pros quintos! Mas que diabos! Eu que teria prova de Latim amanhã, digo, hoje, ia morrer na praia sem ao menos nadar!
Corremos... Corremos como o diabo corre da cruz... Nunca corri tanto na minha vida. Parecia até que aquelas balas continuavam a seguir-nos mesmo virando as curvas das dunas e bancos dali. Pisei em espinhos, garrafas. Espero não ter pisado
Ainda ofegante, andamos miúdos até um posto policial, haviam dois fardas lá. Contei-lhes o ocorrido e como se o que eu havera contado fosse algo como... ‘ah, eu vi um garotinho cair no chão. Vão lá ajuda-lo’... E não o fato: ‘UM SURTADO TENTOU ATIRAR
Meu Deus! Quanta indignação no peito. Tive um dia de cão e ainda me veio aquelle pobre diabo para terminar com o que mal começou. Sem contar com os cães capados que nada fizeram (nem vão fazer).
É certo isso? Ontem foram só tiros que acertaram a areia, viraram vidro. Amanhã um corpo, dois corpos sem dono, nem nome na mesma areia.
Eu estou vivo, contudo infeliz pela falta de ação dos nossos ‘homens da lei’. Acho que estou perdendo a paixão pela corporação... Tal organização merece mesmo meu suor?
E meu sangue, onde fica? No chão? Na terra?
Indignado,
H.P.
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