o Sin gula r

terça-feira, 14 de abril de 2009

Nesta noite, decido voar.

Meia noite. Tenho tido dias difíceis de digerir, apesar de acordar todas as manhãs e poder enxergar, ouvir, falar e sentir tudo ao meu redor... Pelo menos tudo o que não me foge aos sentidos.

Alguns minutos atrás conversava com um grande afeto. Pessoa especial que me surgiu na vida para me acrescentar muito. No meio de uma conversa também especial, me sugeriu uma meditação guiada. Começou citando o que eu deveria ver e até onde eu deveria ir, e acabou que fui ao meu santuário, ascendi um incenso e apaguei as luzes e sentei no meio do tapete qual um cego diante da promessa de luz aos olhos. Segui como pedido e adentrei à fruição.

O mar tocando a areia, o céu e a lua cheia que toca o mar e incendeia... Tudo aquilo me levou à algumas memórias das quais tentei sempre me desligar. Segui, entrei naquela imensidão despido das roupas e dos pesares, e andei até submergir. De súbito, me percebi envolto de muita água e quando caí em mim, já sentia novamente o corpo e os joelhos reclamarem...

Feito isso, levantei lentamente, acendi a luz para procurar o isqueiro, depois apaguei e me sentei à cama. Ascendi um cigarro e fiquei de costas para a janela que estava atrás de mim, quando percebi uma das mais sublimes luzes que jamais vira em meu quarto, pelo menos não como aquela. A lua fulgurava branda qual tocha branca perto do amanhecer no alto leste. Que imagem... Não demorei e me ajoelhei na cama para observar melhor tudo aquilo que estava ali, não gratuitamente. Precisei enfrentar esses dias para chegar ali e ver além das paredes que me cercavam. Há mais lá fora, mas a lua sempre me intriga. Aquele arco avermelhado circundando sua alvidez e as nuvens qual algodão virgem desfiado e solto ao vento. Senti vontade de misturar àquele céu e de não sentir mais saudades daqui.

Existem coisas na vida que não se mostram aos olhos sem que outros olhos o façam per si. A vida é simples, intrigantemente simples. Complicados são nossos planos existenciais, cheios de balelas e devaneios.

Não havia mais nada que se fazer diante do céu. Tomei minha pena, agradeci ao Grande Arquiteto e decidi voar nesta noite.

H.P.

Nenhum comentário: