o Sin gula r

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Lágrima



Visualize uma lágrima, mas não uma lágrima comum das que escorre no rosto do menino que ralou o joelho, ou da viúva vendo a areia abraçar o corpo do seu marido defunto.

Eu me refiro a uma lágrima com sais trocados, com enxofre em lugar de suor, uma lágrima que desce devagar incendiando e desfigurando o que já foi rosto, derretendo rugas, poros, pêlos.

É a lágrima antigente, antivida, antilágrima. A gota violenta que deforma os olhos que antes se apertaram para sorrir com a boca - que não cai (!) - mas que se pendura rosto abaixo lancinante como ferro incandescente comendo a carne viva e fazendo de tudo carvão e fumaça.

Nenhum comentário: