o Sin gula r

domingo, 12 de dezembro de 2021

A carta que não chegou

          Caro triste amante,


Foi ontem o fim da nossa distopia, do amor impossível. De tantos retalhos de conversas e acordos pespontados, eu cheguei aos trapos.

Eu entrei neste barco segurando tua mão e assumindo que mesmo que eu não soubesse navegar, eu aprenderia e não te poria em riscos. Perdi as contas de quantas vezes você se jogou ao mar aberto e eu fui te buscar de volta.

Afoito que és, fostes tu que tantas vezes me colocou a perder, a derivar e nunca me buscar. Eu mesmo que sempre cuidei de voltar, ao custo que fosse.

Ontem eu aceitei enxergar o que nunca quis e vi um homem pequeno, ensimesmado, cheio de si, tão cheio que alí fazia todo o sentido de porque eu não cabia em ti. Enxerguei teu desrespeito e desleixo, enxerguei mais do que os olhos podiam (deveriam) ver. E de tão pequeno, miúdo em virtudes, enxerguei finalmente o qual grande sou perto de ti, e "é uma pena, mas você não vale à pena, não vale uma fisgada desta dor".

Se um dia te fiz dobrar os joelhos, fiz contigo em igual gesto para provar o meu desejo de que fossemos iguais. Se perdoei tantos impropérios, foi porque quis te mostrar como o perdão é vital e regenerativo.

Eu cansei, não como nas outras vezes, eu cansei de olhar para ti, lembrar de tuas promessas e constatar sua imbecil incapacidade de cumprí-las. Talvez nada fosse sobre você não conseguir cumprir o que prometia, mas mais por você não querer mesmo por vaidade das vaidades, por ser de fato um hedonismo e egocêntrico.

Quantos silêncios aguentei enquanto eu chorava e tremia de cólera. Você foi diferente dos outros, devo confessar, você foi pior, mais maléfico e danoso à minha saúde mental e emocional. Você definitivamente superou o pior dos amantes que tive. Se penso no mais fraco deles me vem os versos "ele era mil, tu és nenhum, na guerra és vil, na cama és mocho, TIRA AS MÃOS DE MIM!".

Se te amo ainda hoje? Tenho vontade de me estapear até não amar mais, mas assim, mais uma vez, só faria mal a mim mesmo. Agora, neste momento, eu não sei o que dói mais: se os pontos da boca que estouraram ontem na nossa última discussão ou o rombo terrível que você fez no meu peito.

As mensagens que te mandei, mesmo que ignoradas por você ter presenças mais nobres foram as mais sinceras. As velas que acendi no chão frio, minhas lágrimas todas, nada foi em vão! Você vai virar gente na marra e nunca mais vai ser capaz de provocar tanto mal estar em quem quer que seja.

Eu vou te esquecer, custe o tempo que custar, vou te esquecer e seus olhos nunca mais vão me achar, suas mãos nunca mais irão me tocar. Você perdeu o Homem da tua Vida sem qualquer possibilidade de reencontrá-lo.


          Adeus


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